A propriedade de Maria Antonieta : Pequeno Trianon e Aldeia da Rainha
Alegria de viver no Pequeno Trianon
Uma rainha de França assumia permanentemente o seu papel representativo. Era a sua função. Mas essa função, tão desejada pelo comum dos mortais, era pesada para Maria Antonieta, que preferia a simplicidade à pompa do Palácio de Versalhes. O povo não gostava dela, em grande parte por causa dos boatos e das fofocas infundadas. Conhecemos o seu fim. Se dermos uma vista de olhos no seu percurso de vida, saberemos um pouco mais sobre esta rainha, e veremos, que no fim de contas, esta mulher procurava apenas aquilo que todos nós procuramos: a alegria de viver.
O Pequeno Trianon
O palácio do Pequeno Trianon foi mandado construir por Luís XV, como oferenda à Senhora de Pompadour. A célebre preferida do rei, não teve tempo de aí morar, falece antes da conclusão das obras. É a Senhora du Barry que inaugurará em 1768 este pequeno palácio, decorridos os 4 anos necessários ao arquiteto do rei Ange-Jacques Gabriel para conclui-lo. Gabriel é um arquiteto muito conhecido, porque a ele devemos a Praça da Concorde em Paris e a Escola Militar.
Foi no ano de 1774 que Maria Antonieta se instalou no Pequeno Trianon após afastar a Senhora do Barry. A partir desse momento, o pequeno castelo será para sempre associado a rainha no imaginário francês. O Pequeno Trianon será o “Castelo das Mulheres”, onde as esposas do soberano de França aqui farão a sua morada. O tamanho reduzido do castelo, mais intimo, muito agradava Maria Antonieta, que assim ficava liberta das obrigações da Corte. É um edifício de planta quadrada, muito inspirado na Antiguidade. Durante a sua construção, a moda do dia era o estilo Neoclássico, estilo que queria recriar as glórias da Antiguidade, conduzidas ao gosto da época. Preferia-se a pureza das linhas, as colunas e as pilastras de ordem coríntia, a harmonização com a natureza.
O Pequeno Trianon é inteiramente dedicado às flores, o que terá feito o seu sucesso no seio do género feminino. Ele está envolto por jardins, muito próximo da Aldeola da Rainha. Só mulheres moravam aqui, os homens, e até o próprio o rei, eram meros convidados. Maria Antonieta gostava de afirmar que morava no Pequeno Trianon como uma pessoa simples. Esta aparente despreocupação pela miséria do povo francês, terá mais tarde, contribuído para a sua perdição, mesmo se sabemos hoje, que a imagem que herdamos da rainha pelos revolucionários é falsa.
Após o período tortuoso da Revolução, são aqueles que são próximos de Napoleão que vêm morar no Pequeno Trianon. Em primeiro lugar, a sua irmã Pauline de Bonaparte, seguido da imperatriz Marie-Louise. O Pequeno Trianon volta a ganhar um ar jovial durante este período, finalmente reabilitado, restabelecendo toda a sua nobreza. Logo depois, será a vez da duquesa de Orleães, seguida pela imperatriz Eugénia de Montijo, esposa de Napoleão III, grande admiradora de Maria Antonieta. O Pequeno Trianon irá paulatinamente cair no esquecimento, voltando apenas à luz do dia, cerca de um século mais tarde, quando Maria Antonieta é redescoberta pelos franceses graças a literatura e o cinema…
O palácio, foi desde então, fielmente restaurado segundo o seu estado original, como tinha concebido a esposa de Luís XVI. Enfim, é uma maneira de ver as coisas. Maria Antonieta morava aqui, hoje é apenas um museu intensamente visitado! Sempre me fiz esta pergunta, se não era melhor devolver estes lugares históricos para serem habitados, em vez de fazer deles museus. Pergunta difícil, que não tem necessariamente uma resposta. Se fosse possível aqui viver nos dias de hoje, como seria? Quem teria o direito legitimo de aqui morar? A primeira-dama de França? Um ministro? Uma estrela do mundo dos negócios?
Sejamos francos: não se aprende muito sobre Maria Antonieta, a maior parte dos edifícios mudaram ao longo do tempo, assim como os moradores. Temos uma exibição de mobília muito bonita, decoros muito belos dentro de um palacete muito elegante no meio de jardins. Uma sala “multimédia” foi instalada no pequeno Trianon para termos uma ideia da vida na época da Rainha, mas isso ou visionar um DVD sobre a matéria vai dar ao mesmo para mim. Para dizer a verdade, preferia aqui morar do que visitar! J
A Aldeia da Rainha
Não tenho a sorte de ser muito rico, o que me teria permitido mandar construir uma pequena aldeia nas portas de Paris, só para o meu deleite. Possuir um palácio como o Pequeno Trianon, e uma pequena exploração agrícola para as suas necessidades, é obviamente um sonho que tem mais de pura fantasia do que de realidade. Mas quando se é rainha de França, esta possibilidade é real, então, para quê privar-se disso? A Aldeia da Rainha, contrariamente ao que acreditava os cidadãos revolucionários, não estava aqui apenas como elemento de decoro e para o bom grado da sua majestade a rainha, mas era também uma autentica quinta, que produzia para a Mesa Real. Ainda não se falava dos produtos biológicos na época, ou de hortas partilhadas. Ter uma pequena exploração agrícola nas proximidades era uma verdadeira necessidade para as pessoas da época, os transportes não eram tão eficazes como nos nossos dias.
A Aldeia da Rainha é herdeira daquilo que já existia, o Zoo de Festinhas, onde se encontrava um estábulo, um curral, um celeiro, uma leiteira… tudo o que era necessário para levar produtos frescos da quinta para a mesa real. Para além das hortas, também encontrava-se um jardim botânico, onde plantas exóticas eram cultivadas, criando uma reputação em toda a Europa pelo jardim do rei. Esta pequena aldeia, desejada pela rainha e elevada pelo arquiteto Richard Mique, estava aqui, para se fugir totalmente de Versalhes. É inspirada da aldeia de Chantilly. A aldeia de Chantilly, não tinha outra função, se não distrair os convidados do proprietário do Castelo de Chantilly, o príncipe de Condé. A aldeia da Rainha servia para a sua própria distração, mantendo o seu aspeto funcional, de levar viveres à mesa real.
A aldeia era então muito mais que um simples folly, a sua vocação não era um mero decoro. Outros folly decoram o parque do Pequeno Trianon, quer seja o Grande Rochedo e o Belvédère ou o Templo do Amor por exemplo. Para a rainha, a aldeola também tinha uma vocação pedagógica para as crianças. Mas não nós esqueçamos que ainda estarmos em Versalhes, mesmo se o exterior da pequena aldeia é de aspeto rustico, no seu interior, todo o conforto versalhense está presente. As casas são construídas em redor de um grande lago, a quinta encontra-se um pouco recuada. Nada estava colocado ao acaso, a rainha soube fazer-se acompanhar por pintores para a aconselhar.
Maria Antonieta usufrui por muito pouco tempo a sua pequena aldeia e da vida “campestre” que aqui desejava obter. Iniciada em 1783, estava praticamente concluída em 1786, 3 anos antes da tomada da Bastilha. Depois da Revolução, a Aldeia da Rainha é deixada ao abandono. Até um relatório chega as mãos de Napoleão para mandar destrui-la. É só com a chegada do século XX que será paulatinamente restaurada. Uma quinta pedagógica é aí instalada nos anos 90, restabelecendo umas das vontades da rainha.
Seria eu capaz de morar num lugar destes? Não. É uma espécie de Disneyland do século XVIII. Recriar uma aldeia da Normandia de forma artificial, no meio de Versalhes, soa a falso. Uma paisagem elegante de cinema dos nossos dias, a utilidade de se ter uma quinta muito perto de casa, deixou de existir. Porém, o conceito de viver no campo a dois passos da cidade agrada-me bastante, talvez pelas mesmas razões de Maria Antonieta. O que há de mais agradável de ter as vantagens e as regalias de uma vida no campo, mantendo a proximidade com uma grande cidade? Esta possibilidade fica cada vez mais longe de nós, a medida que as nossas cidades ganham terreno sobre a província, cada vez mais despovoadas. Maria Antonieta, não tinha a possibilidade de se afastar muito da Corte de Versalhes, a sua pequena aldeia permitia-lhe ter uma vida mais simples, mantendo a sua proximidade com o rei e o Castelo.
Incrivel seu post. Super bem escrito, esclarecedor. Parabens